23/11/13

caderno Fantasma Útil



Na próxima quinta-feira 28 de Novembro, às 18 horas, será lançado, na  livraria Pó dos Livros (Avenida Marquês de Tomar, 89, Lisboa), o livro caderno Fantasma Útil de Fernanda Cunha, João Eduardo Ferreira e Pedro Castro Henriques, editado pela Apenas Livros.

Venham descobrir o que têm em comum obras como Crime e Castigo de Fiódor Dostoievski, O Mundo de Ontem de Stefan Zweig, Apuros de um Pessimista em Fuga de Mário de Carvalho e A Máquina de Fazer Espanhóis de Valter Hugo Mãe. Venham descobrir como a política e a literatura se interligam e de que forma a leitura e a escrita podem ser actos políticos.

O evento contará com uma conversa entre os autores do "caderno", a editora Fernanda Frazão e os escritores Mário de Carvalho e Rui Cardoso Martins. Lerei de seguida alguns excertos e terminaremos com um "convívio" entre todos os que comparecerem.

Não haverá transmissões em directo pelo Facebook, embora não se desdenhe a publicação de fotos a posteriori. caderno Fantasma Útil não estará à venda no Pingo Doce nem terá descontos de 50%; ainda assim, este livro, constituído por um ensaio e duas ficções, poderá ser adquirido a um preço bem simpático.

03/11/13

O Guião de Paulo Portas




Quando soube que o governo ia escrever um guião e tal tarefa estava a cargo de Paulo Portas, achei a escolha acertada. Paulo Portas é um cinéfilo com provas dadas, tem experiência a inventar intrigas, domina tão bem a língua portuguesa que até consegue mudar o significado de palavras como "irrevogável" ou "dissimulação" e adapta-se facilmente a funções tão distintas como negociar submarinos ou tirar fotocópias.

Claro que houve atrasos e adiamentos na conclusão desta tarefa, o que provocou alguns protestos por parte de pessoas que não têm noção das dificuldades do guionismo (Robert McKee, professor reputado da arte de escrever histórias, chegou mesmo a afirmar que um guião é mais difícil de escrever do que um romance). Mas Paulo Portas, qual Barton Fink do Palácio das Laranjeiras, lá conseguiu vencer os medos e apresentar o guião ao país.

As críticas não se fizeram esperar. Primeiro de tudo, o guião tem mais de 120 páginas e foi escrito a dois espaços e tamanho 16. Ora, qualquer principiante na arte de escrever guiões sabe que se deve utilizar a fonte Courier, tamanho 12, a espaçamento simples. Além disso, não há estúdio que pegue num guião com mais de 100 páginas e alguns até torcem o nariz aos que ultrapassam as 90. Este problema podia ter sido facilmente ultrapassado se, ao invés de escrever em Word, Paulo Portas tivesse usado o CeltX, que é gratuito e trata logo da formatação sem que o guionista se preocupe com isso.

Mas o conteúdo também apresenta problemas graves: há sequências que se repetem, cenas demasiado longas, diálogos redundantes, o enredo é pobre e inverosímil, a estrutura tem falhas, as ideias são superficiais ou plagiadas e não se percebe bem para onde vão os protagonistas. A bem dizer, só se percebe que a história vai acabar mal e que há mais bandidos do que em toda a saga do Padrinho.

Consta que Alfred Hitchcock dizia que a qualidade do filme se mede pela qualidade do vilão. Neste caso, os vilões são planos, grotescos, ridículos e não fascinam ninguém, mas desconfio que não os esqueceremos tão cedo. É pouco provável que nos matem no duche como o Norman Bates, mas é bem possível que privatizem a água e nos apresentem uma conta astronómica quando sairmos da banheira.

No fundo, em vez de nos ter dado um guião tecnocrata e um discurso aborrecido, Paulo Portas podia ter apresentado um pitch: um bando de indivíduos sem escrúpulos junta-se com a intenção de desmantelar o Estado e distribuir tudo pelos amigos, em troca de um futuro cargo numa parceria público-privada. Conseguirão os lusitanos compreender este plano e agir a tempo de o impedirem?