27/04/12

Folhinha Poética

Se houve quem dissesse que o mundo acabaria em 2012, houve quem respondesse que o melhor era acabá-lo em poesia. Inspirado nos poemários da Assírio & Alvim, Jorge Amaral de Oliveira lançou mãos à obra e criou uma agenda que junta poemas escritos em várias línguas (português, mirandês, castelhano, francês, crioulo, inglês, grego antigo, etc.), uns da autoria de ilustres desconhecidos, outros de poetas consagrados.

Chegada finalmente a Portugal, a edição em papel da Folhinha Poética será lançada no próximo domingo 29 de Abril de 2012, pelas 18 horas, na livraria Fabula Urbis (Rua de Augusto Rosa, 27, Lisboa). Haverá um pequeno sarau e uma recolha de poemas para a agenda de 2013 (o mundo não acabará este ano e a poesia também não).

Venham ler um poema, cantar, tocar ou dançar! A entrada é livre.

05/04/12

Dia Mundial do Teatro


27 de Março de 2012. Frente ao Teatro D. Maria II vários agentes observam a entrada, em modo de alerta. Terão ouvido dizer que o teatro é uma arte subversiva e levado a expressão à letra? Irão prender todos os espectadores, como acontece no final do «Pai Tirano»? Não nos dava jeito nenhum, que já temos coisas marcadas para amanhã.

Aproximamo-nos. Um agente comenta: «ele já entrou». Estarão a perseguir alguém? Entramos, ansiosos por saber quem é o criminoso que eles procuram. Pedro Passos Coelho fala com alguns funcionários do teatro, ao lado da esposa, que faz questão de olhar para toda a gente que entra. Afinal, os agentes estão apenas preocupados com a eventualidade de uma manifestação espontânea e devem ter recebido uma remessa de bastões por estrear.

Os receios são infundados, já que os espectadores fazem questão de se afastarem do Primeiro-Ministro, que parece estar mais para ser visto do que para ver. Terá sido um convite institucional para assinalar o Dia Mundial do Teatro? Espero bem que não, que não estou com paciência para ouvir discursos.

Entramos na sala. Sentamo-nos na penúltima fila. Passos Coelho e a mulher sentam-se mais à frente. Ao lado dele, senta-se Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República. Na mesma fila, mas mais afastados, estão Francisco José Viegas e João Mota. Afinal, parece mesmo uma ida oficial ao Dia Mundial do Teatro, razão pela qual estranho a ausência de Nuno Crato, que tanto tem trabalhado em equipa com Francisco José Viegas.

Sim, têm trabalhado em equipa! Graças ao Viegas, os desempregados vão ter borlas nos museus e descontos nos teatros. Graças ao Crato, haverá mais professores desempregados. Ora, se isto não é trabalho em equipa, não sei o que será. Graças a estes esforços conjuntos, daqui a uns meses vamos ter professores tão cultos, mas tão cultos, que só Deus sabe o que ensinariam aos alunos se os tivessem. De resto, se o desemprego já é transversal a todas as áreas profissionais, a cultura sê-lo-á também. Há gente em Bruxelas surpreendida com o número de desempregados em Portugal; imagino como ficarão daqui a uns meses, quando virem os números das frequências dos museus e dos teatros.

O que terá levado Nuno Crato a faltar ao teatro? Estará a pensar em mais formas de destruir a Educação Artística? Não, que isso já está praticamente feito e demonstrado no documento da Reestruturação Curricular publicado no dia anterior! É pena ele não estar ali. Podia aproveitar o intervalo para ir ao palco explicar o que entende por «disciplinas fundamentais», conceito que me faz lembrar a minha infância.

Quando andava na Primária, tive uma professora que lia histórias e poemas nas aulas e que de vez em quando nos punha a pintar, a cantar e a fazer fantoches ou pequenas dramatizações. Quando isso acontecia, era visitada por alguns pais que, de dedo em riste, a intimavam a ensinar “só o que faz falta”. Quase trinta anos depois temos finalmente um ministro da Educação ao nível dos analfabetos dos anos 80. É um bocadinho mais refinado que eles, mas não se pode ter tudo!

A peça começa. Trata-se de a «A Morte de Danton», peça histórica da autoria de Georg Büchner. O espectáculo é denso, mas provoca gargalhadas imprevistas nos momentos em que se fala em guilhotinar os traidores à Pátria. As “elites” presentes vêem-no com atenção e até me parece ver o Primeiro-Ministro tirar apontamentos quando uma personagem diz que a prostituição é uma forma de trabalho e de combate à pobreza.

Terminada a peça, o público aplaude e o encenador Jorge Silva Melo sobe ao palco, lê a Mensagem do Dia Mundial do Teatro, com a entoação que esta merece, e sai do palco, sem uma única referência às sumidades presentes.

O público começa a levantar-se. Felizmente não teremos de ouvir nenhum discurso político. Olho uma última vez para Passos Coelho. Vai radiante, o que não é para menos. Dizem que o homem dedica meia hora por semana à Cultura. A peça durou mais de três horas e, com o tempo das despedidas oficiais e do regresso a Massamá, ter-lhe-á dedicado mais de quatro. Já tem o trabalho despachado para os próximos dois meses!