12/02/12

Apresentação do livro «azul 25 linhas» de João Eduardo Ferreira


Apareçam!

Ponto de encontro: Guerras/crises


Nos dias 14 e 15 de Fevereiro (terça e quarta), o encenador Hugo Miguel Coelho apresentará na Fábrica dos Leões (Universidade de Évora) o Ponto de Encontro: Guerras/Crises, um projecto teatral, integrado num Mestrado em Encenação que o Hugo está a frequentar na Universidade de Évora. 

Debatem-se, através do Teatro, vários problemas da actualidade, nomeadamente a crise financeira. Mas, para melhor conhecerem o projecto, nada melhor do que lerem as palavras do Hugo.

após um ano de actividades (oficinas, conversas, explorações,...) surge agora um ponto de encontro de algumas explorações e propostas de trabalho artístico.

para este mosaico de ideias, apareçam, colaborem, discutam, participem..
abraço
_______ marcações para 963114591 (espaço limitado) ______

MATERIAIS DA EXPLORAÇÃO QUE INTEGRAM O "PONTO DE ENCONTRO: G/C":
Textos de Abel Neves, Carlos Alberto Machado, Firmino Bernardo, Miguel de Matos Valério, Rui Sousa, Rui Pina Coelho e ainda Bertold Brecht e Harold Pinter.
Documentos em exploração de "Paranóia _ documentário", "Sangue _ coreografia" (com Projecto Transparências), "War" (com Custódio Rato).
Outros materiais de Ana Dordio, Anabela Calatroia, Ana Silveira Ferreira, mikel oguh, Manuel Dias.
Resultados das oficinas no Centro de Dia de Valverde, Universidade Sénior de Évora e Associação de Reformados e Pensionistas do Bairro Nossa Senhora da Saude.
....
Com alunos do curso de teatro da Universidade de Évora e actores do CENDREV (José Russo e Rosário Gonzaga) e do coisasdocorpo. produção da ExQuorum.

apoios: Câmara Municipal de Évora, Junta de Freguesia de Nossa Senhora da Tourega, Universidade de Évora, Cendrev
guerrascrises.blogspot.com

05/02/12

O Mundo Está Cheio de Vampiros






Tinha seis ou sete anos quando vi o meu primeiro filme de vampiros. Digo-vos: foi assustador! Os vampiros mordiam o pescoço às pessoas, bebiam-lhes o sangue e depois as vítimas tornavam-se vampiros e acontecia tudo outra vez. Lembro-me de pensar: se fazem isto muitas vezes, não tarda nada, o mundo enche-se de vampiros. 

Meus amigos, o meu maior medo tornou-se realidade: o mundo está cheio de vampiros. Vou ao cinema, eles estão lá. Ligo a televisão, eles estão lá. Vou às livrarias, ou até mesmo à FNAC, eles estão lá. Até no teatro! No outro dia fui ver um Shakesperare e o Hamlet já não dizia «to be or not to be», dizia «to bite or not to bite».

Há tantos vampiros neste mundo que até fiquei surpreendido com a reacção de algumas pessoas à frase da FNAC «Troque Os Maias pela Meyer». O Correio da Manhã chegou mesmo a noticiar que o apelo «não caiu bem junto de leitores e intelectuais». Ainda bem que a FNAC retirou o anúncio! Se a frase tivesse ofendido só leitores ou só intelectuais, talvez não valesse a pena. Mas se ofende leitores e intelectuais, então a coisa é mesmo grave. Há quem diga que o CM é um mau jornal, mas é dos poucos que nos ensina a fazer distinções subtis, já que há quem pense que os intelectuais lêem e os leitores utilizam o intelecto.

Mas deixemos agora os livros e foquemo-nos nas telenovelas americanas, vulgarmente conhecidas por «soap operas». Antigamente a intriga era sempre a mesma: um rapaz pobre apaixona-se por uma rapariga rica, mas os pais dela já lhe marcaram o casamento com um rapaz rico. Hoje a intriga é completamente diferente: um vampiro pobre apaixona-se por uma vampira rica, mas os pais dela já colocaram a capa e já lhe foram marcar o casamento com um vampiro rico. E, claro está, esta história original ocorre na bela e solarenga Califórnia, onde todos os vampiros são bonitos, conduzem Porsches e podem apanham o sol que quiserem.

Reside aqui, aliás, outra novidade em relação às histórias tradicionais de vampiros. Enquanto o Nosferatu e o Dracula se preocupavam com o nascer do sol, os novos vampiros preocupam-se com coisas importantes como borbulhas, compras e a roupa que vão usar na próxima festa em Malibu. Isto torna as histórias de hoje mais assustadoras que as antigas. As crianças têm medo que os vampiros conquistem o mundo. Os adolescentes têm medo que a Melissa compre um vestido igual ao da Kate e que isso provoque uma grande luta no liceu dos vampiros. E os adultos têm medo que as televisões nunca mais parem de produzir estas coisas.

Bem, já que estamos a falar de medo, vou contar-vos uma ideia que ando a congeminar para um filme de terror. A primeira cena é uma espécie de homenagem ao Shining e passa-se num hotel enorme onde só vive uma família. O personagem principal, um escritor parecido com o Jack Nicholson, está frente à máquina de escrever, chama a mulher e o filho e diz que acabou de escrever um guião para um filme de adolescentes vampiros. Assustador, não é? Então esperem pela cena seguinte: num estúdio de televisão, um realizador dá indicações a miúdos que “representam” como os dos «Morangos com Açúcar»!

Consciente de que as pessoas podem não conseguir aguentar tanto terror, aparece uma personagem que vai aliviar um bocadinho a história: um assassino em série. Na verdade, este personagem simpático é apenas alguém que já não consegue aguentar mais modernices vampirescas. Então, faz-se passar por um empregado de catering, coloca uma bomba no estúdio e quando ela explode, morrem cinco pessoas de uma só vez. Depois deste momento de alívio o terror volta a instalar-se na cena seguinte: o produtor bate na mesa e afirma que não está disposto a desistir do filme!

Entretanto o guionista vai à produtora tentar saber a razão de ainda não lhe terem pago (qualquer semelhança entre isto e a vida real terá sido mera coincidência), fica a saber do atentado e começa a investigar pelos seus próprios meios, até que consegue descobrir onde vive o assassino. Entra em casa dele e descobre a fotocópia de uma lista com o nome das pessoas envolvidas na criação do filme: os actores, o realizador, os técnicos, o produtor, os assistentes de produção, até os tipos que só fazem as sandes e tiram os cafés.

O guionista telefona para a produtora para avisar do que se passa, mas ninguém atende. Ele deixa mensagem a pedir que lhe liguem urgentemente, mas como é apenas o guionista, ninguém faz caso. O atentado ocorre nesse mesmo dia e mata toda a equipa das filmagens. Assustado, o guionista pensa em fugir, mas olha uma última vez para a lista e repara que o assassino se esqueceu dele.

O escritor suspira de alívio e agradece a Deus por viver num país onde que toda a gente, incluindo a Sociedade Portuguesa de Autores, se esquece de quem escreve guiões. Volta para casa, destrói todas as cópias do guião e senta-se, satisfeito, julgando estar finalmente livre do terror. Mas então liga-se à internet, abre o e-mail e descobre que houve alguém que não se esqueceu dele: o Ministério das Finanças!

E pronto, é isto. O que é que vos parece? Faço um filme ou escrevo um livro? Se calhar, escrevo antes um livro, que é coisa mais do agrado da Secretaria de Estado da Cultura. Depois é só procurar uma boa editora, divulgar bem a coisa e fazer o lançamento numa livraria. Ou mesmo na FNAC!