27/11/12

Lançamento de «Contos Adventícios» de João Eduardo Ferreira




Por altura da edição pela Apenas Livros de «Contos Adventícios» de João Eduardo Ferreira, estão convidados a participar numa conversa com Mário de Carvalho, Pedro Castro Henriques e Manuel Halpern, seguida de uma leitura de excertos do livro por Firmino Bernardo. 

 Quinta-feira, dia 29 de Novembro, pelas 18h00, na livraria Pó dos Livros, Rua Marquês de Tomar 89, em Lisboa (junto à igreja de N. Sr.ª de Fátima).

18/11/12

Os Estagiários


Poucas coisas são tão úteis a uma instituição como um estagiário. Primeiro, porque trabalha a troco de (quase) nada. Segundo, porque desempenha como ninguém a função de bode expiatório. Numa instituição onde haja estagiários ou jovens, os mais velhos, mais sábios e mais experientes podem fazer as borradas que quiserem, porque já se sabe sobre quem recairão as culpas. Isto vê-se, sobretudo, nos comentários a notícias de jornais. A notícia foi mal redigida, os factos não foram todos verificados, há erros gramaticais? Está bom de ver: desde que entregaram certas tarefas a estagiários, o jornal nunca mais foi o mesmo. O que mais me irrita nestes juízos é ver que são feitos sem conhecimento de causa. Sim, é bem possível que a culpa seja de um estagiário. Mas também é possível que não o seja. Contudo, a última hipótese raramente é levantada. Para todas as pessoas que fazem julgamentos precipitados, só me resta receitar (e recitar) as sábias palavras que o jovem Hamlet disse ao amigo Horácio: há mais coisas no céu e na terra do que sonha a vossa vã filosofia!

16/11/12

El-Rei D. Dinis na Casa de Mateus


- Ai flores, ai flores, do verde pino,
se sabedes novas do prémio antigo?
           Ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores, do verde ramo,
se sabedes novas do prémio desapoiado?
           Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do prémio antigo,
aquele a que o governo quis dar castigo?
           Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do prémio desapoiado,
aquele que o governo quer ver cancelado?
           Ai Deus, e u é?

- Vós me preguntades pelo prémio antigo
e eu bem vos digo que continuará vivo.
           Ai Deus, e u é?

Vós me preguntades pelo próprio desapoiado
e eu bem vos digo que será continuado.
           Ai Deus, e u é?

E eu bem vos digo que continuará vivo
e será entregue ante o prazo saído.
           Ai Deus, e u é?

E eu bem vos digo que será continuado
e será recebido no prazo acordado.
           Ai, Deus, e u é?

(Publicado também na Escrita Criativa nº 29)

07/10/12

Os Burocratas


Os burocratas fecham-se em gabinetes
Os burocratas nunca olham pela janela
Os burocratas estudam papéis e julgam conhecer o mundo
Os burocratas inventam teorias de gabinete
Os burocratas discutem os arquivos
Os burocratas discutem leis inventam leis passam-nas para o papel
Os burocratas mudam o mundo que não conhecem
E de vez em quando mudam também a disposição dos móveis

(Publicado também na Escrita Criativa nº 28)

27/04/12

Folhinha Poética

Se houve quem dissesse que o mundo acabaria em 2012, houve quem respondesse que o melhor era acabá-lo em poesia. Inspirado nos poemários da Assírio & Alvim, Jorge Amaral de Oliveira lançou mãos à obra e criou uma agenda que junta poemas escritos em várias línguas (português, mirandês, castelhano, francês, crioulo, inglês, grego antigo, etc.), uns da autoria de ilustres desconhecidos, outros de poetas consagrados.

Chegada finalmente a Portugal, a edição em papel da Folhinha Poética será lançada no próximo domingo 29 de Abril de 2012, pelas 18 horas, na livraria Fabula Urbis (Rua de Augusto Rosa, 27, Lisboa). Haverá um pequeno sarau e uma recolha de poemas para a agenda de 2013 (o mundo não acabará este ano e a poesia também não).

Venham ler um poema, cantar, tocar ou dançar! A entrada é livre.

05/04/12

Dia Mundial do Teatro


27 de Março de 2012. Frente ao Teatro D. Maria II vários agentes observam a entrada, em modo de alerta. Terão ouvido dizer que o teatro é uma arte subversiva e levado a expressão à letra? Irão prender todos os espectadores, como acontece no final do «Pai Tirano»? Não nos dava jeito nenhum, que já temos coisas marcadas para amanhã.

Aproximamo-nos. Um agente comenta: «ele já entrou». Estarão a perseguir alguém? Entramos, ansiosos por saber quem é o criminoso que eles procuram. Pedro Passos Coelho fala com alguns funcionários do teatro, ao lado da esposa, que faz questão de olhar para toda a gente que entra. Afinal, os agentes estão apenas preocupados com a eventualidade de uma manifestação espontânea e devem ter recebido uma remessa de bastões por estrear.

Os receios são infundados, já que os espectadores fazem questão de se afastarem do Primeiro-Ministro, que parece estar mais para ser visto do que para ver. Terá sido um convite institucional para assinalar o Dia Mundial do Teatro? Espero bem que não, que não estou com paciência para ouvir discursos.

Entramos na sala. Sentamo-nos na penúltima fila. Passos Coelho e a mulher sentam-se mais à frente. Ao lado dele, senta-se Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República. Na mesma fila, mas mais afastados, estão Francisco José Viegas e João Mota. Afinal, parece mesmo uma ida oficial ao Dia Mundial do Teatro, razão pela qual estranho a ausência de Nuno Crato, que tanto tem trabalhado em equipa com Francisco José Viegas.

Sim, têm trabalhado em equipa! Graças ao Viegas, os desempregados vão ter borlas nos museus e descontos nos teatros. Graças ao Crato, haverá mais professores desempregados. Ora, se isto não é trabalho em equipa, não sei o que será. Graças a estes esforços conjuntos, daqui a uns meses vamos ter professores tão cultos, mas tão cultos, que só Deus sabe o que ensinariam aos alunos se os tivessem. De resto, se o desemprego já é transversal a todas as áreas profissionais, a cultura sê-lo-á também. Há gente em Bruxelas surpreendida com o número de desempregados em Portugal; imagino como ficarão daqui a uns meses, quando virem os números das frequências dos museus e dos teatros.

O que terá levado Nuno Crato a faltar ao teatro? Estará a pensar em mais formas de destruir a Educação Artística? Não, que isso já está praticamente feito e demonstrado no documento da Reestruturação Curricular publicado no dia anterior! É pena ele não estar ali. Podia aproveitar o intervalo para ir ao palco explicar o que entende por «disciplinas fundamentais», conceito que me faz lembrar a minha infância.

Quando andava na Primária, tive uma professora que lia histórias e poemas nas aulas e que de vez em quando nos punha a pintar, a cantar e a fazer fantoches ou pequenas dramatizações. Quando isso acontecia, era visitada por alguns pais que, de dedo em riste, a intimavam a ensinar “só o que faz falta”. Quase trinta anos depois temos finalmente um ministro da Educação ao nível dos analfabetos dos anos 80. É um bocadinho mais refinado que eles, mas não se pode ter tudo!

A peça começa. Trata-se de a «A Morte de Danton», peça histórica da autoria de Georg Büchner. O espectáculo é denso, mas provoca gargalhadas imprevistas nos momentos em que se fala em guilhotinar os traidores à Pátria. As “elites” presentes vêem-no com atenção e até me parece ver o Primeiro-Ministro tirar apontamentos quando uma personagem diz que a prostituição é uma forma de trabalho e de combate à pobreza.

Terminada a peça, o público aplaude e o encenador Jorge Silva Melo sobe ao palco, lê a Mensagem do Dia Mundial do Teatro, com a entoação que esta merece, e sai do palco, sem uma única referência às sumidades presentes.

O público começa a levantar-se. Felizmente não teremos de ouvir nenhum discurso político. Olho uma última vez para Passos Coelho. Vai radiante, o que não é para menos. Dizem que o homem dedica meia hora por semana à Cultura. A peça durou mais de três horas e, com o tempo das despedidas oficiais e do regresso a Massamá, ter-lhe-á dedicado mais de quatro. Já tem o trabalho despachado para os próximos dois meses!

12/02/12

Apresentação do livro «azul 25 linhas» de João Eduardo Ferreira


Apareçam!

Ponto de encontro: Guerras/crises


Nos dias 14 e 15 de Fevereiro (terça e quarta), o encenador Hugo Miguel Coelho apresentará na Fábrica dos Leões (Universidade de Évora) o Ponto de Encontro: Guerras/Crises, um projecto teatral, integrado num Mestrado em Encenação que o Hugo está a frequentar na Universidade de Évora. 

Debatem-se, através do Teatro, vários problemas da actualidade, nomeadamente a crise financeira. Mas, para melhor conhecerem o projecto, nada melhor do que lerem as palavras do Hugo.

após um ano de actividades (oficinas, conversas, explorações,...) surge agora um ponto de encontro de algumas explorações e propostas de trabalho artístico.

para este mosaico de ideias, apareçam, colaborem, discutam, participem..
abraço
_______ marcações para 963114591 (espaço limitado) ______

MATERIAIS DA EXPLORAÇÃO QUE INTEGRAM O "PONTO DE ENCONTRO: G/C":
Textos de Abel Neves, Carlos Alberto Machado, Firmino Bernardo, Miguel de Matos Valério, Rui Sousa, Rui Pina Coelho e ainda Bertold Brecht e Harold Pinter.
Documentos em exploração de "Paranóia _ documentário", "Sangue _ coreografia" (com Projecto Transparências), "War" (com Custódio Rato).
Outros materiais de Ana Dordio, Anabela Calatroia, Ana Silveira Ferreira, mikel oguh, Manuel Dias.
Resultados das oficinas no Centro de Dia de Valverde, Universidade Sénior de Évora e Associação de Reformados e Pensionistas do Bairro Nossa Senhora da Saude.
....
Com alunos do curso de teatro da Universidade de Évora e actores do CENDREV (José Russo e Rosário Gonzaga) e do coisasdocorpo. produção da ExQuorum.

apoios: Câmara Municipal de Évora, Junta de Freguesia de Nossa Senhora da Tourega, Universidade de Évora, Cendrev
guerrascrises.blogspot.com

05/02/12

O Mundo Está Cheio de Vampiros






Tinha seis ou sete anos quando vi o meu primeiro filme de vampiros. Digo-vos: foi assustador! Os vampiros mordiam o pescoço às pessoas, bebiam-lhes o sangue e depois as vítimas tornavam-se vampiros e acontecia tudo outra vez. Lembro-me de pensar: se fazem isto muitas vezes, não tarda nada, o mundo enche-se de vampiros. 

Meus amigos, o meu maior medo tornou-se realidade: o mundo está cheio de vampiros. Vou ao cinema, eles estão lá. Ligo a televisão, eles estão lá. Vou às livrarias, ou até mesmo à FNAC, eles estão lá. Até no teatro! No outro dia fui ver um Shakesperare e o Hamlet já não dizia «to be or not to be», dizia «to bite or not to bite».

Há tantos vampiros neste mundo que até fiquei surpreendido com a reacção de algumas pessoas à frase da FNAC «Troque Os Maias pela Meyer». O Correio da Manhã chegou mesmo a noticiar que o apelo «não caiu bem junto de leitores e intelectuais». Ainda bem que a FNAC retirou o anúncio! Se a frase tivesse ofendido só leitores ou só intelectuais, talvez não valesse a pena. Mas se ofende leitores e intelectuais, então a coisa é mesmo grave. Há quem diga que o CM é um mau jornal, mas é dos poucos que nos ensina a fazer distinções subtis, já que há quem pense que os intelectuais lêem e os leitores utilizam o intelecto.

Mas deixemos agora os livros e foquemo-nos nas telenovelas americanas, vulgarmente conhecidas por «soap operas». Antigamente a intriga era sempre a mesma: um rapaz pobre apaixona-se por uma rapariga rica, mas os pais dela já lhe marcaram o casamento com um rapaz rico. Hoje a intriga é completamente diferente: um vampiro pobre apaixona-se por uma vampira rica, mas os pais dela já colocaram a capa e já lhe foram marcar o casamento com um vampiro rico. E, claro está, esta história original ocorre na bela e solarenga Califórnia, onde todos os vampiros são bonitos, conduzem Porsches e podem apanham o sol que quiserem.

Reside aqui, aliás, outra novidade em relação às histórias tradicionais de vampiros. Enquanto o Nosferatu e o Dracula se preocupavam com o nascer do sol, os novos vampiros preocupam-se com coisas importantes como borbulhas, compras e a roupa que vão usar na próxima festa em Malibu. Isto torna as histórias de hoje mais assustadoras que as antigas. As crianças têm medo que os vampiros conquistem o mundo. Os adolescentes têm medo que a Melissa compre um vestido igual ao da Kate e que isso provoque uma grande luta no liceu dos vampiros. E os adultos têm medo que as televisões nunca mais parem de produzir estas coisas.

Bem, já que estamos a falar de medo, vou contar-vos uma ideia que ando a congeminar para um filme de terror. A primeira cena é uma espécie de homenagem ao Shining e passa-se num hotel enorme onde só vive uma família. O personagem principal, um escritor parecido com o Jack Nicholson, está frente à máquina de escrever, chama a mulher e o filho e diz que acabou de escrever um guião para um filme de adolescentes vampiros. Assustador, não é? Então esperem pela cena seguinte: num estúdio de televisão, um realizador dá indicações a miúdos que “representam” como os dos «Morangos com Açúcar»!

Consciente de que as pessoas podem não conseguir aguentar tanto terror, aparece uma personagem que vai aliviar um bocadinho a história: um assassino em série. Na verdade, este personagem simpático é apenas alguém que já não consegue aguentar mais modernices vampirescas. Então, faz-se passar por um empregado de catering, coloca uma bomba no estúdio e quando ela explode, morrem cinco pessoas de uma só vez. Depois deste momento de alívio o terror volta a instalar-se na cena seguinte: o produtor bate na mesa e afirma que não está disposto a desistir do filme!

Entretanto o guionista vai à produtora tentar saber a razão de ainda não lhe terem pago (qualquer semelhança entre isto e a vida real terá sido mera coincidência), fica a saber do atentado e começa a investigar pelos seus próprios meios, até que consegue descobrir onde vive o assassino. Entra em casa dele e descobre a fotocópia de uma lista com o nome das pessoas envolvidas na criação do filme: os actores, o realizador, os técnicos, o produtor, os assistentes de produção, até os tipos que só fazem as sandes e tiram os cafés.

O guionista telefona para a produtora para avisar do que se passa, mas ninguém atende. Ele deixa mensagem a pedir que lhe liguem urgentemente, mas como é apenas o guionista, ninguém faz caso. O atentado ocorre nesse mesmo dia e mata toda a equipa das filmagens. Assustado, o guionista pensa em fugir, mas olha uma última vez para a lista e repara que o assassino se esqueceu dele.

O escritor suspira de alívio e agradece a Deus por viver num país onde que toda a gente, incluindo a Sociedade Portuguesa de Autores, se esquece de quem escreve guiões. Volta para casa, destrói todas as cópias do guião e senta-se, satisfeito, julgando estar finalmente livre do terror. Mas então liga-se à internet, abre o e-mail e descobre que houve alguém que não se esqueceu dele: o Ministério das Finanças!

E pronto, é isto. O que é que vos parece? Faço um filme ou escrevo um livro? Se calhar, escrevo antes um livro, que é coisa mais do agrado da Secretaria de Estado da Cultura. Depois é só procurar uma boa editora, divulgar bem a coisa e fazer o lançamento numa livraria. Ou mesmo na FNAC!