16/01/11

Baco a Presidente



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CORO

Eis-nos em Tebas,
Cidade fundada pelo antigo rei Cadmo,
Pai de Ino, Agave, Antónoe
E da bela Sémele, que despertou a paixão de Zeus,
Deus dos deuses e das trovoadas.

Apesar de casado com Hera,
Deusa ciumenta e vingativa,
Zeus cortejou Sémele,
Seduziu-a e engravidou-a.

(...)

Para se vingar,
Hera fez Sémele duvidar de Zeus
E convenceu-a a pedir-lhe que se mostrasse na sua verdadeira forma.

Dias mais tarde,
Quando se encontraram,
Sémele obrigou Zeus a jurar que cumpria um pedido seu,
Fosse qual fosse.

Longe de suspeitar do ardil de Hera,
Zeus jurou cumprir a vontade de Sémele
E ela pediu-lhe que se mostrasse tal como é.

(...)

Pesaroso por conhecer as consequências de tal pedido,
Zeus cumpriu a promessa:
Transformou-se num trovão
E fulminou a pobre Sémele,
Que morreu imediatamente.

Mas a criança sobreviveu
E Zeus colocou-o na própria coxa
Para aí terminar a gestação.

É por isso que ele se chama Ditirambo,
Aquele que nasceu duas vezes.

Também é conhecido por Brómio, Diónisos ou Baco.»

Excerto de As Grandes Dionísias, peça livremente inspirada no mito de Baco e n' As Bacantes de Eurípides


E pronto, está resolvido o Mistério! De quem estava a falar o senhor presidente da República quando disse que temos de nascer duas vezes para sermos mais honestos que ele? Do deus Ditirambo, Brómio, Diónisos, Dioniso ou Baco, que infelizmente não é candidato ao cargo.

Eu votaria nele, apesar de ter estado contra os lusitanos no Concílio dos Deuses e dos estratagemas que arranjou para tramar a vida ao Vasco da Gama. Esse comportamento tem, a meu ver, duas atenuantes.

Primeiro, Baco temia que a glória do povo português pudesse ofuscar os feitos dele. Ora, nas circunstâncias actuais, a glória do povo português não ofusca ninguém.

Segundo, esses estratagemas foram todos inventadas por Camões. Estou convencido que se Luís Vaz conhecesse os actos cometidos por certo adorador do deus bolo-rei e dos deuses mercados contra o povo lusitano, dez cantos não lhe chegariam para Os Lusíadas. Se, além disso, Camões soubesse que parte do povo português pretende continuar a votar nessa figura, desistiria logo da epopeia.

Com Baco presidente, seriam vetados quaisquer atentados à agricultura (pão e vinho era o lema dos povos antigos), às festas e ao Teatro. Com Baco presidente, os especuladores que andam a ganhar dinheiro com os juros da dívida pública teriam uma sorte bem pior que a de Penteu (assassinado pelas Bacantes, entre as quais estava a própria mãe). Com Baco presidente, talvez o povo voltasse a ter razões para festejar.

Infelizmente, os políticos (e o povo) continuam a adorar os falsos deuses Mercados. E é nisto que reside a Origem da Tragédia.